MILTON NASCIMENTO - TURNÊ CLUBE DA ESQUINA - SÃO PAULO, 18 DE JANEIRO DE 2020

MILTON NASCIMENTO E SUA ODE À MÚSICA

(Para meu pai, que foi o responsável por me apresentar à obra de Milton e para minha filha, que me acompanhou nessa emocionante viagem musical)

MILTON NASCIMENTO - TURNÊ CLUBE DA ESQUINA

SÃO PAULO, 18 DE JANEIRO DE 2020

Com pouco mais de 10 minutos de atraso, abrem-se as cortinas e lá está ele.

Milton Nascimento, do alto de seus 77 anos está diante de nós.

Já no palco, sentado num banquinho elevado, ao som de muitos aplausos e uma clara atmosfera de emoção, sem aviso ou introduções, ouvimos os primeiros acordes de violão de “Tudo O Que Você Podia Ser”, primeira faixa do álbum que dá nome a essa turnê, Clube da Esquina.

Seguida por Dos Cruces, cantada em castelhano com seu belo e característico timbre, conseguimos ter a noção do que viria pela frente.

Acompanhado por uma banda incrível, Milton, apesar de permanecer sentado por quase todo o espetáculo, graças a idade e algumas limitações físicas, continua com sua voz vigorosa, toca violão em algumas faixas e também um pequeno acordeom.

Milton Recebe no palco uma série de convidados. Parte são seus antigos parceiros de Clube da Esquina, parte são artistas da nova geração e é interessante observar as diferentes posturas. Enquanto os antigos companheiros parecem à vontade, fazendo uma jam com o amigo, os mais jovens demonstram mais que emoção, mas aquela gratidão por terem conquistado o direito de fazer parte de algo tão icônico como são os shows dessa turnê.

O primeiro a subir no palco, já na terceira canção, é Flávio Venturini, com quem Milton divide três músicas, dentre elas Nascente, faixa presente no Clube da Esquina 2.

Em seguida é a vez de Maria Gadú, com quem divide cinco canções, com destaque para Um Girassol Da Cor De Seu Cabelo, que causou certa comoção graças a seu ritmo crescente. E vale aqui uma citação para o som da casa, onde minhas experiências nem sempre foram das melhores nesse quesito. Dessa vez parece que a produção do show e o Espaço das Américas conseguiram encontrar equilíbrio, e, pelo menos onde estávamos posicionados, era possível ouvir absolutamente todos os instrumentos de maneira clara e sem excessos.

Com a saída de Maria Gadú, quem sobe ao palco é Lô Borges. Antes do Mineiro subir ao palco, Milton fez questão de relembrar uma de suas várias histórias sobre o período do Clube da Esquina, dessa vez fazendo uma homenagem à família Borges, por quem Milton foi acolhido.

Após duas canções, Milton e Lô Borges deixam o palco e o destaque fica para o jovem artista Zé Ibarra, que canta San Vicente com muita competência, deixando evidente seu grande talento, além de entoar Trem de Doido e Estrelas.

E é durante Estrelas que Milton e Lô retornam ao palco para em seguida protagonizar um dos momentos mais emocionantes da apresentação.

Ao som de Clube da Esquina 2 foi difícil segurar a emoção...

Essa canção tem uma história curiosa, pois é uma música instrumental gravada no Clube da Esquina 1, parceria de Milton e Lô Borges, que só veio a receber letra no final dos anos 70, essa escrita por Márcio Borges, a pedido de Nana Caymmi, posteriormente gravada tanto por Lô Borges, como anos depois por Milton.

A essa altura foi a vez de Criolo subir ao palco. Claramente emocionado, não poupou elogios ao “mestre Milton” e entoaram Cais. Com direito a presença de Milton no Piano e mais duas músicas na sequência.

Em seguida vimos Maria Rita, que, da geração de artistas mais novos, é sem dúvida a mais conhecida e bem sucedida, e com ela foram mais três canções.

E chegou a vez do último convidado especial. O maestro Wagner Tiso subiu ao palco para acompanhar Milton ao piano numa sequência de sucessos com uma emocionante versão de Para Lennon e Mccartney, tendo os versos acompanhados pelo público a plenos pulmões.

Após uma rápida pausa, com direito ao fechamento das cortinas, todos voltam ao palco para o bis.

E lá se vão ‘Paula e Bebeto’ e Maria Maria.

Ao todo foram aproximadamente duas horas e vinte minutos de apresentação, com um total de 27 músicas (set list completo mais abaixo).

Minha intenção com esse texto, era, ao mesmo tempo demonstrar meu carinho e respeito pela obra de Milton Nascimento, artista que aprendi a admirar graças a influência do meu pai, e também uma forma de manter na memória alguns momentos de uma das apresentações musicais mais emocionantes que tive a chance de assistir.

Esse era para mim, ao lado de tantos outros, um show que estava na minha lista de shows obrigatórios.

Shows são experiências sensoriais. É aquele conjunto do artista, das canções, público, atmosfera e sentimento coletivo, que cria uma experiência única e nos transporta para outros lugares, épocas e dimensões.

E algumas dessas apresentações nos marcam para sempre, como foi o caso de ontem. Nunca voltarei a ouvir aquelas canções sem relembrar alguns momentos e me transportar de volta para aquela plateia, de fronte a um dos maiores cantores, compositores e músicos da Música Popular Brasileira, que consegue sem esforço atrair a todos a sua volta, seja o público ou os convidados ali presentes.

"Eu sou da América do Sul

Eu sei, vocês não vão saber

Mas agora sou cowboy

Sou do ouro, eu sou vocês

Sou do mundo, sou Minas Gerais"

Obrigado Milton.
_________________________________________________________________________________

Setlist

Milton Nascimento, Turnê Clube da Esquina, São Paulo, 18 de janeiro de 2020.

PLAYLIST TIDAL

1.       TUDO O QUE VOCÊ PODIA SER

2.       DOS CRUCES

3.       UM GOSTO DE SOL

4.       NUVEM CIGANA

5.       NASCENTE

6.       CASAMIENTO DE NEGROS

7.       CANOA, CANOA

8.       CRAVO E CANELA

9.       UM GIRASSOL DA COR DO SEU CABELO

10.   PAISAGEM NA JANELA

11.   LILIA

12.   O TREM AZUL

13.   SAN VICENTE

14.   TREM DE DOIDO

15.   ESTRELAS

16.   CLUBE DA ESQUINA Nº 2

17.   CAIS

18.   ME DEIXA EM PAZ

19.   NÃO EXISTE AMOR EM SP

20.   PONTA DE AREIA

21.   NADA SERÁ COM ANTES

22.   ENCONTROS E DESPEDIDAS

23.   O QUE FOI FEITO DEVERA

24.   CORAÇÃO DE ESTUDANTE

25.   PARA LENNON E MCCARTNEY

BIS

26.   PAULA E BEBETO

27.   MARIA MARIA

WILTON é casado e pai de dois filhos e do cão Floyd.

Divide seu tempo livre entre a família, seus discos de vinil e seu violão.

Escrever é um de seus hobbies e sem dúvida essa é uma das maneiras mais sinceras de dividir com o mundo, o mundo que o habita.