4 Anos de Audições - Os Toca-Discos Parte 2 - Pro-Ject 6 Perspex SB

Em 2016, mais precisamente no final de fevereiro, fiz um post sobre meus últimos anos de audição de vinil, comentando especificamente sobre os modelos de toca-discos que haviam passado em meu sistema.


Agora, um ano depois desse texto, da devolução de um Pioneer PLX-1000 e de ter utilizado um Technics SL D2 emprestado por um grande amigo (valeu Nelson!), finalmente o novo toca-discos chegou.

Sempre tive uma "lista mental" de toca-discos e marcas que gostaria de possuir.
Entre eles: VPI, Pro-Ject, Clearaudio, Thorens, Rega e os novos Technics que ainda não deram as caras por aqui.
Algumas marcas infelizmente não têm representação no Brasil ou no Paraguai (sim, o Paraguai tem inúmeras representações OFICIAIS de marcas de renome), em outros casos, quando vendidos aqui, alguns preços tornam-se absurdamente inflados.
Dia desses vi dois Rega RP 6 (£898,00 no Reino Unido) sendo vendidos respectivamente por R$10.900,00 e incríveis R$15.700,00 num conhecido site de Leilões. Mas isso é assunto para outra postagem...

Depois de uma longa espera por uma boa oportunidade, o escolhido foi o Pro-Ject 6 Perspex SB.






Pro-Ject Audio Systems

A Pro-Ject é uma empresa austríaca, fundada no início dos anos 1990 que produz uma série de equipamentos voltados para áudio.
É famosa por sua linha Box-Design, que une ótima qualidade de construção em equipamentos de pequenas dimensões físicas, com resultados sonoros surpreendentes.
Além disso possui uma vasta gama de toca-discos, indo de (competentes) modelos de entrada, até os mais sofisticados toca-discos Hi-End.


6 Perspex SB


O modelo 6 Perspex SB está em sua terceira geração. Lançado em 2001, o primeiro modelo chamado de Perspective, apresentava sua base em acrílico e um sub-chassis que mantinha o prato e o braço, isolados do restante da estrutura do toca-discos. A geração seguinte, já chamada de 6 Perspex, ganhou novos componentes, como motor, braço, novo sub-chassis em Corian*, novo prato em MDF mais espesso e sistema de pés ajustáveis.

Em meados de 2016 foi lançada a terceira geração, que está em produção atualmente.


Características

A principal alteração nessa edição renovada, foi o novo motor.

Nas versões anteriores, para mudança de velocidade (33/45 RPM) é necessário mudar a correia de posição na polia do motor, ou ainda adicionar ao sistema um equipamento chamado Speed Box, que além de alterar eletronicamente a rotação, ainda estabilizava a tensão enviada ao motor, onde segundo o fabricante, tem significativa na reprodução.

Já no modelo em produção, o motor possui esse dispositivo internamente, não sendo necessárias quaisquer manobras com a correia, nem a adição de qualquer equipamento externo, o que sem dúvida alguma, facilita a vida para quem possui em sua coleção títulos em 45 RPM.
Daí saiu a sigla "SB" (Speed Box).

Além do visual, uma das questões que mais impressiona no toca-discos, é, sem qualquer dúvida, o sistema do sub-chassis, algo como uma base intermediária, que atua de forma suspensa através de 3 pontos magneticamente ativos, mantendo assim o braço que é montado diretamente nele e o prato que é encaixado logo acima, sem contato com a base principal e sem receber quaisquer vibrações provenientes do motor, mantendo-os totalmente isolados, com exceção, é claro, do contato com a correia.


Especificações Gerais:
- Velocidade: 33 1/3, 45,11 RPM (selecionadas eletronicamente)
- Tração por correia
- Prato: MDF/Vinil (30cm Diâmetro)
- Rolamentos de aço invertidos, com esferas de cerâmica
- Wow & Flutter: +/- 0,06%
- Variação de Velocidade: +/- 0,10%
- Relação Sinal Ruído: - 73dB
- Fonte de Energia Externa: 15 volts DC / 800mA
- Tensão de Operação: 110/120 ou 230/240 Volt - 50 ou 60 Hz
- Consumo: 6 watts max / < 0,3 watts standby
- Dimensões: 460 x 183 x 365mm (WxHxD)
- Peso Total: 11,0 kg


Especificações Braço:

- Modelo: 9” cc Evolution - Peça única em Fibra de Carbono
- Comprimento: 230 mm
- Massa Efetiva: 8,0 g
- Overhang: 18mm
- Tracking force: 10 - 35mN
- Contra-peso (4): 5 - 7,5g / 7 - 10g / 9 - 11g / 10 - 14g
- Peso: 265g (sem contra-peso)

Análise subjetiva:


Nos últimos anos, quando voltei a investir no analógico e tive alguns toca-discos novos, o que passei mais tempo possuía, além da tração direta (Direct Drive), braço em "S".

A única exceção foi o Thorens TD190-2, que passou por volta de um ano por aqui e foi o primeiro toca-disco novo que tive em muitos anos.

Mas na prática, que diferença faz?
Sem entrar nas diferenças técnicas de projeto, massa, ressonância, compliância... a primeira e mais aparente delas, é a possibilidade de trocar de cápsulas rapidamente.
Possuindo "jogos" de headshell e cápsulas, a troca é quase instantânea. Considerando ainda, que todos os ajustes desses braços costumam ser feitos de forma extremamente prática, trocar de cápsula não leva mais do que poucos minutos.

Já com braço reto, a coisa não costuma ser algo simples.
O primeiro fator é a fixação da cápsula no braço, que normalmente é feita em um headshell fixo, que nada mais é do que a extensão do próprio braço. Ou seja, para trocar a cápsula, é necessário desconectar os 4 pequenos fios que ligam a cápsula ao braço.
Outra questão, é que no caso do 9cc Evolution, os ajustes de VTA, VTF, Antiskating e Azymuth, requerem cuidado e certa habilidade.


Unboxing e Setup:

Depois de certa espera, finalmente recebi o equipamento.
A caixa é suficiente para o transporte, mas confesso que esperava algo mais reforçado. Baseado na caixa do meu pré de phono, que também é da marca, fiquei até um pouco preocupado com a situação das partes do toca-discos, devido a normal ausência de cuidados com o transporte. Mas no final todas as partes estavam inteiras, inclusive a tampa de acrílico.
Junto com o toca-discos, também foram enviadas uma série de acessórios, como 4 contra-pesos, fonte de alimentação com 3 tipos de padrão de tomadas, além do motor, pés, etc.

O sub-chassis "magnético", vem travado com 3 parafusos de fixação para transporte e o eixo protegido.

Esse equipamento está longe de ser algo simples ou rápido para ser montado. Talvez para quem já montou algum, ou tenha pelo menos algum toca-discos da marca, possa ser uma tarefa mais simples, mas confesso que perdi um bom tempo para decifrar algumas questões.
O manual ajuda, mas não resolve. Alguns pontos você acaba seguindo pela lógica, mas para marinheiros de primeira viagem, sugiro auxílio de alguém mais experiente.

Um ponto delicado é a montagem dá cápsula no headshell. Os leads são extremamente finos (algo comum a todos os equipamentos desse tipo e muito delicados. Os leads que normalmente acompanham cápsulas ou headshell's, costumam ter maior bitola e permitem o manuseio um pouco "mais firme" nos encaixes. Já nesse caso, a impressão é de que qualquer forçada a mais, pode simplesmente arrancar o conector da ponta do fino cabo.

O alinhamento da cápsula pode ser feito com um gabarito fornecido com os acessórios. É simples, prático e não requer grande esforço em acertar o alinhamento.
Um nível bolha também faz parte do pacote e caso haja desnível, os 3 pés são ajustáveis. Sim... são apenas 3 pés.


Performance:

Passada a montagem, passei para as primeiras audições.
Costumo ser cético quanto à audições, ainda mais quando se utiliza a mesma cápsula.
Estou com a Ortofon 2m Black por volta de um ano e mais ou menos 120 horas de uso (está faltando tempo pra ouvir...) e acostumei com seu timbre e características.
Com ela tocaram o Audio Technica AT LP1240, Pioneer PLX-1000 e Technics SL D2. Desses 3, posso dizer que mesmo tendo ficado pouquíssimo tempo com ele, o PLX foi o que melhor se comportou com essa cápsula e entre todos ouvi diferenças.
MAS... o que eu não esperava era uma diferença tão grande para o Pro-Ject. Só ouvindo para entender.


De maneira resumida, o impacto causado foi o mesmo que senti quando saí do pré de phono built in de um receiver Pioneer SC37, para um pré dedicado conectado a um amplificador integrado.
Tudo ficou mais rico. Mais vivo.
E até aquela certa frieza, volta e meia comentada como sendo característica da 2m Black, acabou sendo substituída por mais vida nas audições.

Nesse seguimento, a satisfação de investir em algo desconhecido e muitas vezes mais caro, que traga resultados positivos na prática, é sempre muito positivo.

Investi num toca-discos que conhecia ha anos, apenas por reviews e opiniões de usuários, mas que sequer tinha visto um pessoalmente.
O resultado até o momento foi nada menos do que surpreendente e sem qualquer sombra de dúvidas superou toda e qualquer expectativa.

A naturalidade com que reproduz as notas e a precisão na reprodução, mesmo nas últimas faixas, tornou as primeiras audições, uma experiência muitíssimo agradável.

Tentado não cair no lugar comum, é impossível não comentar que em muitos casos, os discos que tanto conheço, soaram como se fossem outras prensagens. Mais ricas e detalhadas, como nunca tinha ouvido em meu sistema.

O isolamento de vibração também é algo a se ressaltar.
O sistema de suspensão magnética realmente funciona e mesmo batendo na base do toca-discos ou no rack, não se ouve qualquer interferência na reprodução.
Só consegui ouvir alguma coisa, com a agulha sobre um disco parado e com o volume do amplificador muito próximo do máximo. Em uso normal, entre as faixas, ou em passagens mais silenciosas, o silêncio de fundo predomina.
Ponto mais do que positivo.


Veredito:

Nesse hobby sempre existirá algum equipamento superior. O problema é que normalmente nessa equação, a partir de determinada faixa de valor, o ganho acaba sendo inversamente proporcional ao valor investido.
Acredito que depois de tantos anos estudando, pesquisando, tentando evoluir, mas principalmente ouvindo muita música no meu e outros sistemas, começo a chegar num ponto que é próximo de ter algo definitivo. Seja pela performance, ou pela (limitada) capacidade financeira de investir nesse seguimento.
A música e "o som" acabaram se tornando prioridades em minha vida, mas tenho outras e não posso ignorá-las.

O toca-discos é excepcional. Sua performance é irrepreensível para o padrão dos equipamentos que eu tenho contato e pode ser o equipamento definitivo para mim e para muitos usuários.

Pontos Positivos:
- Qualidade excepcional de construção;
- Braço e sistema de lift extremamente suave;
- Sub-chassis magneticamente suspenso;
- Performance musical.

Pontos Negativos:
- Embalagem merecia maior cuidado e reforço para transporte;
- Manual simplificado. Não atende usuários inexperientes;
- Leads muito finos (Ok, é uma característica, mas torna o processo mais complicado).


Próximos Passos:

Cheguei num ponto que passei a cogitar algo que nunca tinha pensado. Ter um segundo toca-discos.
Penso no futuro voltar a possuir um Direct Drive com braço em "S". Quem sabe ainda consiga um Technics SL1200 G ou GR?
A praticidade da troca de cápsulas é o ponto que mais de anima nesse tipo de equipamento e essas experiências comparativas são sempre bacanas. Além disso, a manutenção quase zero e a "durabilidade infinita", são pontos muito atrativos.
Mas isso é futuro...

E por aqui ficamos com música.

Ah, a música...



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WILTON é casado e pai de dois filhos e do cão Floyd.
Divide seu tempo livre entre a família, seus discos de vinil e seu violão.
Escrever é um de seus hobbies e sem dúvida essa é uma das maneiras mais sinceras de dividir com o mundo, o mundo que o habita.

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