Radiohead no Brasil - São Paulo - 2009

Radiohead no Brasil, ou como o tempo parou por 2 horas...

O dia era 22 de março de 2009... Um dia de verão em São Paulo, com temperatura amena na capital paulista.
Sim, foi há quase 6 anos que o Radiohead fez seus primeiros e únicos shows no Brasil.
Além do show em São Paulo, ainda tocaram para um público animado no Rio de Janeiro.
E foi uma longa e muitíssima aguardada espera.



Uma rápida história:

O grupo iniciou suas atividades em 1993. Álbum após álbum a evolução técnica e criativa dos componentes ficou cada dia mais evidente.

Do garage-indie-rock de Pablo Honey, com guitarras sujas e um som ainda pouco elaborado, saíram hits como “Creep” e "You". Depois veio o lirismo de Fake Plastic Trees e High And Dry do álbum The Bends, onde as guitarras ainda estavam presentes, mas mais limpas e acompanhadas de violões e de um clima mais intimista do que no primeiro álbum do grupo.

Em 1997 veio Ok Computer. Para mim e também para muita gente, um divisor de águas. Não só na carreira do grupo, mas na história da música. Letras muitas vezes incômodas, acompanhadas de melodias elaboradas, tornando a construção musical do disco algo complexo, que foi muito além do que se podia esperar de um grupo indie rock lançando apenas seu terceiro álbum.



Em seguida vieram os experimentais Kid A e Amnesiac. E uma das canções mais belas do grupo para esse que vos fala: How to Dissapear Completelely...

No ano de 2005 tivemos o excelente Hail to The Thieh e em 2008 outro álbum de “clássicos”, In Rainbows. Esse último é a prova de como um grupo com mais de 10 anos de carreira (na época), pode (e deve) se reinventar, sem perder a identidade. Fazendo um disco extremamente moderno e musicalmente rico.

Em fevereiro de 2011 tivemos o controverso The King of Limbs. Algo como Kid A e Amnensiac um pouco menos melancólicos, somados a exemplos de “loops” e experimentações eletrônicas, típicas de um álbum solo de Thom Yorke.

Mas foi exatamente na turnê do disco In Rainbows que o grupo passou por aqui.

Em meio à onda de festivais que se instalou no Brasil e não foi mais embora, para alegria de uns e desespero de outros, que preferem ver essa ou aquela banda ao vivo, nos deparamos com o Just a Fest.

A proposta eram 4 atrações no mesmo dia. Inicialmente um DJ, que confesso não ter visto (se é que tocou) em seguida os brasileiros do Los Hermanos. Grupo que aprendi a ouvir e acabei me aprofundando em seu trabalho, apenas em meados do disco “4”.

A terceira atração da noite foram os alemães do Kraftwerk. Para mim, fã do grupo desde o início da adolescência, finalmente vê-los ao vivo foi algo para contar para meus netos. Era algo quase obrigatório para quem teve uma formação musical tão eclética e alternativa como tive. Onde passei do rock nacional dos anos 80, pelo post-punk e gothic rock, navegando ainda pelo EBM e synthpop e onde eles (os alemães) acabaram influenciando não só a música eletrônica moderna, como todos os grupos que resolveram utilizar sintetizadores, baterias eletrônicas e samples em sua música.



O Show...

A cada troca de atração conseguíamos “andar” um pouco mais para o meio do público, conseguindo assim uma boa distância do palco, onde em poucos instantes Thom Yorke e cia fariam sua apresentação.

Acompanhado de minha eterna parceira de passeios e companheira de shows, minha esposa Tatiana (na época ainda namorada), dos amigos Pablo, Nelson, Vivian, André e outros que nos acompanharam na van fretada para o evento, cada um conseguiu um lugar para acompanhar o que viria pela frente.

Luzes apagadas... Gritos na multidão... E o coração já bateu mais forte.

E foi com ruídos e loops eletrônicos que uma de minhas maiores e melhores experiências em shows começou.

Abrindo com 15 Step..., passando por clássicos como Karma Police e canções tristes como Nude, foi em Paranoid Android que tudo se convergiu para um dos momentos mais emocionantes que presenciei até hoje.
Todas as canções, sim, eu disse TODAS as canções foram acompanhadas pelo público. Mas o refrão de Paranoid Android cantado em uníssono com “Rain down... Rain down, come on rain down on me... From a great height, from a great…” emocionou até o mais cético ou frio ser humano presente naquele local.



E não contentes em acompanhar o refrão, quando a música acabou quase que por um instinto coletivo, todos recomeçaram a cantar. A ponto do grupo acompanhar o público por alguns instantes.

Logo em seguida, quase que sem tempo para retomar o fôlego, o grupo emendou Fake Plastic Trees. Para mim, depois disso, o que veio foi apenas um complemento de um êxtase que se estendeu até o fim do show. Onde mesmo Creep, também cantada pelo público a plenos pulmões, acabou não tendo mais o impacto que esperava. Mas isso não foi demérito. Muito pelo contrário. Isso apenas comprovou que esse foi um dos melhores shows que tive o prazer de assistir.

A atmosfera, a iluminação, e a música... Ah... a música...



E aí, de volta para o futuro (ou seria para o presente?) nos encontramos em 2014. Pouco tempo depois do anúncio no novo álbum do grupo, como sempre surgem boatos e uma torcida para um retorno do Radiohead em terra brasilis.

Sem previsão de lançamento por enquanto, o novo álbum deve resultar numa turnê mundial. E como o Brasil entrou definitivamente na rota dos grandes festivais, quem sabe os ingleses resolvam aparecer por aqui e nos dar alguns momentos de boa música.

A nós cabe esperar.

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WILTON B JUNIOR é casado com Tatiana e pai de Carolina e do cão Floyd.
Divide seu tempo livre entre a família, seus discos de vinil e seu violão.
Escrever é apenas um de seus hobbies. Mas junto com a música, sem dúvida essa é uma das maneiras mais sinceras de dividir com o mundo, o mundo que o habita.

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